Remexendo em velhos arquivos encontrei um pequeno texto que escrevi há uns dois anos, impactado pela leitura da crônica de Clarice Lispector, "Mineirinho", no qual ela se espanta, se indigna, se sente atacada pelo assassinato do bandido Mineirinho (em 1962), pela polícia do Rio. O que espantou a autora foram os 13 tiros desferidos. "
Um bastava, o resto era vontade de matar", disse Clarice, em entrevista à TV Cultura pouco antes de sua morte, em 1977.
Neste 10 de dezembro do pandêmico 2020 comemora-se 100 anos do nascimento de Clarice Lispector, a maior escritora brasileira. Trágica coincidência, um dia antes, 9 de dezembro, relembra-se sua morte, que faz 43 anos neste centenário de nascimento.
Reproduzo aqui um trecho da crônica "Mineirinho", que me inspirou a escrever 13 CLARICES, uma singela homenagem/reverência à escrita impactante dessa autora única no cenário mundial.
Clarice
não faz apenas 100 anos, ela está cem anos à nossa frente.
"Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro."
(Trecho da crônico Mineirinho, de Clarice Lispector)
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